"Não é de hoje que integrantes do alto escalão da segurança  pública integram a vida política do país.
O Brasil ainda vivia o regime militar quando o então  delegado Romeu Tuma ascendia politicamente, ficando conhecido como um dos  policiais mais atuantes na repressão e controle dos movimentos políticos e  sociais contrários ao regime, quando ganhou o apelido de 'xerife' e levantou  suspeita de ligação com a ditadura.
Foi diretor-geral do Dops (Departamento de Ordem Política e  Social), Superintendente da Polícia Federal paulista e diretor-geral da PF,  sendo eleito Senador da República em 1994.
Atualmente, por exemplo, foram eleitos Deputados Federais  os Delegados Waldir (PSDB-GO), Francischini (PSDB-PR) e Protógenes (PC do B),  este último beneficiado pelo montante de votos recebidos pelo também Deputado  Federal Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP), o Tiririca.
Em Brasília, exerceu mandato de Deputado Federal o Coronel  da PM ALBERTO FRAGA e, nesta legislatura, foi eleito para Deputado Distrital o  Delegado e sindicalista Washington Mesquita. Em ambos os casos, é aparente o  favorecimento em função das funções públicas exercidas.
No âmbito do executivo, grande parte das Secretarias de  Segurança Pública é composta por Delegados de Polícia, em especial da Polícia  Federal, com é o caso da Secretária de Segurança do Rio de Janeiro, a cargo do  Delegado Federal Beltrame.
Recentemente, ainda, um acontecimento chamou a atenção: O  Senador José Sarney foi homenageado com a medalha `top`, chamada `Deferência da  Polícia Federal`, pelo delegado e presidente da Associação Nacional de  Servidores da Polícia Federal no Distrito Federal, João Antunes Vasconcelos, e  pelo presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal, Joel Zarpellon  Mazo. Segundo eles, a homenagem seria em nome de todas as entidades sindicais  dos funcionários da Polícia Federal - mas não contou com o apoio da principal  entidade de classe da polícia federal FENAPEF -, criando a figura do homenageado  condecorado.
Percebe-se, contudo, atuando nos bastidores da segurança  pública, outra curiosidade: Embora numericamente maior, não há histórico de  políticos eleitos oriundos das categorias preteridas que compõem o sistema, como  é o casos dos agentes, peritos e escrivães de polícia, salvo algumas raras  exceções.
Na maioria dos casos, ao assumirem condições e postos de  destaque na cúpula dos 'seus' órgãos, de uma maneira bastante lógica, também  acumulam o encargo de representantes das suas categorias funcionais, angariando  votos e elegendo-se às custas dos seus pares, justificando assim esta estranha  prevalência de políticos delegados e oficiais da cúpula militar.
Sendo assim, esses novos políticos, também por questões  óbvias e motivados por interesses pessoais, propõem uma série de medidas 'para o  aprimoramento da segurança pública no Brasil', muitas delas na contramão das  medidas aplicadas nas principais polícias do mundo. É o caso, por exemplo, da  PEC 549/06, que determina que o salário inicial de um delegado de polícia não  será inferior ao limite fixado para um integrante do Ministério Público.
Nesse caso, o salário de um investigador de polícia, por  vezes responsável pela condução - de fato - de um inquérito policial em São  Paulo, por exemplo, passaria dos quase 25(vinte e cinco) por cento para um pouco  menos de 10 (dez) por cento do subsídio fixado para os seus 'chefes', agravando  ainda mais a situação que já é caótica.  Um promotor de justiça em São Paulo  recebe cerca de 14 (quatorze) mil reais, enquanto um Delegado em início de  carreira percebe cerca de 5.200 reais, contra míseros 1.200 reais de um  inspetor.
Essa PEC é apoiada pelos Delegados Waldir (PSDB/GO),  Fernando Francischini (PSDB/PR) e Protógenes Queirós (PC do B/SP), entre  outros.
Por outro lado, a PEC 300, que estabelece piso salarial  nacional para os policiais de todo o Brasil, encontra grande resistência tanto  no executivo quanto no parlamento, embora já tenha sido aprovada na Câmara dos  Deputados.
O que se pode concluir, contudo, é que a categoria está sim  conseguindo eleger representantes para o parlamento. A dúvida é: Eles estão  realmente representando a todos?".
Hugo Costa é agente de Polícia Federal
.