17/09/2006

De quem é a culpa?

Acabo de ler no JB que duas pessoas foram mortas em incursão feita pela PM no Borel. O que também chama um pouco de atenção na matéria é que, diferentemente do que se deu em ocasiões anteriores (ou, ao menos, do que foi argumentado), os mortos eram pessoas inocentes. Trata-se de um policial mililtar de 33 anos e de uma criança de 9 anos de idade, atingida por um disparo na face.
Como de costume, a versão predominante, ao menos do ponto de vista do estado, é de que o tiro que atingiu a criança partiu de traficante de drogas.
Mas, afinal de contas, e daí? Saber de quem é a culpa é, realmente, o mais importante? E, se for, de quem é a culpa?
A culpa eu não sei, mas a responsabilidade está por demais clara (embora, inominada) !
Sendo verídicas as informações constantes da matéria, é oportuno que se verifique quem determinou (ou autorizou) a realização de tal incursão, levada a efeito às 1200 h de um sábado, em localidade densamente habitada, baseada em mera denúncia anônima (dando conta de que o "chefe do tráfico" do Morro do Alemão estaria no Borel) e incumbida a militares sem farda, os quais teriam ingressado no local a bordo de um táxi?
Por que tamanha preocupação com o "chefe do Alemão"? E o Borel, não tem chefe?
Quais normas administrativas justificam a utilização do modus operandi elencado?
Houve alguma preocupação prévia com a eventual perda de vidas inocentes?
Os militares que executaram a "missão" tinham preparo para tal?
Buscando-se culpados, é importante que se saiba, realmente, de onde partiram os tiros que levaram a óbito o militar e a criança; todavia, sob o enfoque da responsabilidade, interessa evidenciar de quem partiu o verdadeiro primeiro tiro, representado pela ordem ou consentimento para que a incursão se desse.
O triste é que o fato noticiado não se apresenta como algo isolado, mas como resultado regular de práxis cotidiana em nosso estado, alimentada não apenas pela incompetência e, quiçá, má fé, mas, preponderantemente, pela IMPUNIDADE, representada não somente pelas taxas quase nulas de elucidação de delitos da polícia civil, mas, em casos similares (ouso dizer), principalmente pela ausência de imposição de penalidades às autoridades públicas responsáveis pela autorização (ou determinação) para a realização de tais "operações policiais", criando verdadeiro ciclo perverso, onde nada impede que amanhã ou mesmo alguns instantes após escrever tais palavras, fato similar ocorra (se é que já não ocorreu), gerando a perda de mais vidas inocentes de EXECUTORES e vítimas de intentos que, no mínimo e na melhor das perspectivas, parecem derivar do mais lídimo idiotismo.

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