"1. Não há nenhuma investigação que confirme essa hipótese. Por isso eu duvido que alguém tenha interesse em prevenir o delito. Diga-me você que porcentagem do orçamento se dedica à investigação científica do delito. Teria que começar por estudar os conflitos próprios de cada local. Com isso eu vou ter um perfil do autor, da vítima, um perfil de risco de vitimização. Para mim os números não dizem nada por si mesmos. Quando dizem que houve mil homicídios, eu pergunto que homicídios: na rua, dentro de casa?
2. Como não se investiga, pode haver uma sensação que não corresponda com a gravidade dos fatos, ou pode haver uma percepção de fatos, como graves. Vemos as manchetes e os noticiários mostrando homicídios por conta de roubo. E em relação aos homicídios dentro de casa não se vê nada. O morto morre igual para toda a vida. Nós temos um alto índice de homicídios entre conhecidos. As duas fontes de mortalidade importantes que temos são trânsito e suicídios. São mortes!
3. Eu defendo os direitos humanos dos policiais. Eu não sei se estão mais vulneráveis os direitos humanos dos policiais ou dos portadores de estereótipos. Porque o Sistema Penal funciona seletivamente: na cadeia se encontram certas semelhanças.
4. Existem pessoas a quem se pedem documentos em cada esquina e há pessoas as quais não se pede nunca. Isso é portar uma face. O risco de ser vítima não é igual na sociedade. Eu tenho menos risco de ser vítima do que aquele que vive em um povoado. À medida que se vai baixando a escala social há mais gente partidária da pena de morte: não é um problema ideológico, está em relação direta com ser vítima. O sistema penal é seletivo na criminalização, seletivo na vitimização e seletivo na 'policização'.
5. Policização? Dos mesmos setores sociais são selecionados os três: a vítima, o delinqüente e o policial. Esse é o grave problema.".
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Trechos da entrevista com o Ministro Eugenio Zaffaroni, da Corte Suprema da Argentina, considerado um dos grandes juristas do continente. La Nacion .
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Extrato retirado do Ex-Blog do Cesar Maia (14/01/2010).
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