17/12/2006

Repercutiu no Dia - 17/12/06

"'Maus PMs queriam nos matar', diz comandante da PM
Adriana Cruz

Rio - Eles vestiam a farda da PM, mas vendiam armas a traficantes e davam ordens para matar policiais militares honestos. "Se algum policial estranho ao esquema aparecesse, a ordem era atirar. Eles queriam nos matar", revelou o comandante-geral da PM, coronel Hudson de Aguiar Miranda, sexta-feira, pouco depois da megaoperação em conjunto com a Polícia Federal (PF), que prendeu 75 maus policiais.
Se a principal disposição dos militares era se aliar a bandidos, o comandante, com 34 anos de serviço, provou que estava pronto para guerra. E foi para front. Ficou baseado no 14º BPM (Bangu), onde 40 PMs foram presos. Horas depois, em outra ação da PF, desta vez contra a máfia dos caça-níqueis, o comandante da unidade, coronel Celso Nogueira, foi capturado.

—O que essa operação significou para o senhor, que deu ordens pessoalmente aos maus policiais para retirarem suas fardas?
—Eles não são policiais. Eles são travestidos de policiais. Além de vender armas, eles diziam nas gravações telefônicas que se um policial estranho aparecesse, era para atirar. Quero que essa operação sirva de lição.

—Isso é uma resposta aos policiais honestos?
É resposta aos honestos e àqueles que morreram em combate, que derramaram o seu sangue, regando nosso solo. Não poderia deixar de responsabilizar quem se envolveu com o tráfico, venda de armas e munição e caça-níqueis. Desde que assumi, dobrei o número de delegacias de polícia judiciária militar, reforcei o efetivo na correição, que analisou quatro mil procedimentos.

—E como foi a decisão de ir para o front?
—Sempre foi a minha filosofia de trabalho. Em todas as grandes questões que possam afetar a polícia busquei estar à frente. Quando comandei o Batalhão de Polícia Rodoviária, fazia rondas constantes. Na minha passagem pela Inspetoria, prendi oficial acusado de ligação com traficantes de Parada de Lucas. No caso do ônibus 449, participei de dez horas e meia de negociação.

—Como o senhor se preparou para a operação?
—Desde as 5h de sexta-feira, de casa, comecei a coordenar as atividades com a Corregedoria e a Inteligência. Às 8h, estava em Bangu. Fica difícil ter uma visão global do gabinete. A avaliação do combate à criminalidade tem que ser in loco. Um comandante tem que estar à frente da tropa, tomar decisões e não ter medo de cometer erros.

—Como o senhor avalia os dois anos de comando?
—Quando cheguei, primeiro arrumei a casa. Trabalhamos em quatro mil procedimentos. Apostei em recursos operacionais, administrativos e apoio logístico.

—E qual o resultado ?
—Os números mostram. Em 2003, 63 policias foram excluídos. No ano seguinte, foram 82. Na minha gestão, em 2005, 187 policiais foram excluídos. O ano ainda não acabou e já chegamos a 197. Vamos ultrapassar os 200. Isso é uma média histórica na corporação. A Fundação Getúlio Vargas apresentou um relatório das polícias do Sudeste. A do Rio é a mais bem-sucedida no controle. Desde 2002, temos a menor média de homicídios. A taxa é 9,2% menor do que a do ano passado.

—O senhor passará o comando no próximo governo. Então a sensação é de dever cumprido ?
—Com certeza. Tenho que agradecer a Deus de joelhos. Teremos um helicóptero em breve que transportará a tropa para o topo dos morros. Isso evitará tiroteios. Será possível entrar nas favelas de cima para baixo.

—Tem mais algum projeto em andamento que ficará para a próxima gestão?
—Correição, ensino e instrução foram o eixo da nossa administração. Em 2007, será criada a Universidade de Segurança Pública. Em três anos, o policial será bacharel em Segurança Pública. Mais dois anos, ele será bacharel em Direito.

—O senhor pretende se aposentar?
Em abril de 2007. Tenho aí mais uns quatro meses ainda na ativa.

— Muitos ex-comandantes da PM são reformados por problemas de saúde. Esse será o caso do senhor?
—De jeito nenhum. Não tenho nenhum tipo de problema de saúde. Se nada ocorrer, irei para reserva.

—Nem de audição? Como vários outros?
—Não. Escuto muito bem.

—Para o senhor, que deixará em breve o cargo, o que ficou ?
—Gostaria de agradecer a solidariedade voluntária de muitos da tropa. No caso da Ana Cristina Giannini Johannpeter, morta numa tentativa de assalto no Leblon, no início do mês, os policiais, mesmo de folga, trabalharam para dar uma resposta. Em menos de 16 horas, oficiais e praças se esforçaram e conseguiram apreender o menor suspeito.

Álvaro Lins continua na mira da PF Delegado federal diz que ex-chefe de Polícia Civil e deputado estadual eleito comanda bando ligado à máfia de caça-níqueis

Rio - Depois de seis anos à frente da Polícia Civil, o deputado estadual eleito Álvaro Lins é considerado pela Polícia Federal (PF) como ‘chefe’ de bando de agentes ligados à máfia dos caça-níqueis. Integrantes do grupo, conhecidos na Polícia Civil como ‘inhos’ — referência à terminação de seus apelidos — tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça Federal.

“Álvaro Lins é apontado como chefe do grupo. Isso é fato divulgado no inquérito”, disparou o delegado da PF Alessandro Moretti, responsável pela coordenação da Operação Gladiador, que investiga lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e uso de ‘laranjas’ (pessoas cujos nomes são usados na compra de bens).

A polícia conseguiu mandado de busca e apreensão para apartamento na Rua Cinco de Julho, em Copacabana, onde Lins moraria. Mas como o policial foi diplomado deputado, ganhou o direito de só ser processado com autorização da Alerj. Na sexta-feira, quando a operação foi deflagrada, a própria PF teve dúvidas se poderia cumprir a decisão judicial. “Mantivemos contato com o Ministério Público e o entendimento foi de que, se houvesse diplomação do deputado, não poderíamos fazer as buscas porque o juízo competente para decretar a medida seria o TRE do Rio”, justificou Moretti. Ainda de acordo com o federal, o mandado de busca foi expedido por volta do meio-dia e a cerimônia de diplomação ocorreu às 13h. “Era praticamente impossível consultar alguém do TRE”, explicou.

LINS REAGE ÀS ACUSAÇÕES

O deputado eleito negou ontem as acusações. Segundo ele, na ação policial não foram encontrados documentos que comprovem seu envolvimento em crimes. Lins alega que na sua gestão comandou e determinou a apreensão de três mil máquinas caça-níqueis e a prisão de ‘inúmeros’ agentes envolvidos. “Trata-se de procedimento mais ao gosto daqueles que dão prioridade ao escândalo e à infâmia”, afirmou, em nota.

Ele termina alegando que seu patrimônio é de conhecimento das autoridades fiscais e prometendo reagir na Justiça. O deputado é réu — acusado de corrupção passiva — no processo que mandou para a cadeia 12 chefões do bicho na década de 90, entre eles Castor de Andrade. Na época, Lins era tenente da Polícia Militar.".

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