27/10/2018

Por que não votar em Eduardo Paes?

Não é simplesmente pelo fato de integrar o mesmo grupo que domina a política (executiva e legislativa) do RJ desde 2007, e nem tampouco por seus laços óbvios de amizade com personalidades cujas contas à Justiça já estão sendo prestadas.


Não é apenas pelo caráter precário de sua própria candidatura, amparada por mera medida liminar, cujo ulterior julgamento poderá afastá-lo do governo em caso de eleição.

Também não é pela danosa subtração do exercício da polícia administrativa e mesmo do policiamento ostensivo propriamente dito da Polícia Militar, com o duvidoso, inconstitucional e danoso repasse do exercício do poder de polícia à iniciativa privada, a ponto de termos hoje particulares meio fardados e PMs fardados pela metade atuando como “espantalhos” de criminosos nos centros comerciais.

Não, não é pela quase venda da histórica sede do Quartel General da PM e pelo fechamento de Unidades como o 1º BPM, o 13º BPM, o Batalhão de Polícia Ferroviária, o Batalhão de Polícia Florestal e de Meio Ambiente e o Batalhão de Polícia de Trânsito; nem tampouco pela interferência política em processos também constitucionalmente próprios da PM, como o exercício da polícia judiciária militar, o atendimento e repasse de ocorrências e a gestão das relações de ensino e aprendizagem.

Ao longo dos mais de dez anos de protagonismo do grupo do qual emerge a candidatura de Eduardo Paes algumas marcas merecem destaque no RJ:

A cada 3 dias (em média) um PM é assassinado.

A cada 30 dias, 554 pessoas são vítimas fatais de crimes contra a vida ou contra o patrimônio.

Apesar disso, somos hoje campeões no quesito impunidade.

O RJ é o estado em que mais se demora a investigar crimes; 95 % das delegacias têm investigações ainda abertas mais de dois anos após instauração de inquéritos. E, claro, investigação fechada não indica necessariamente autoria elucidada e, menos ainda, oferta de denúncia e condenação.

No Rio de Janeiro, estatisticamente falando, o crime compensa!

E é por isso tudo, por respeito às vidas, inclusive dos nossos, perdidas sem sentido algum e sem responsabilização, que a reflexão se faz necessária.

Não votar em Eduardo Paes é uma questão de respeito, inclusive, próprio.

31/07/2018

Há esperança para o Rio

Sempre há; e o sentimento parece ficar mais aguçado quando estamos diante da mudança de gestão governamental, frente ao início do processo eleitoral.

Mas será que há saída para o RJ (e não só do Rio) e, mais particularmente, para o quadro desolador de insegurança em que se encontra?

Embora não haja de fato soluções mágicas para o problema da (in)segurança e seja ele, guardadas as devidas proporções, é claro, algo relativamente peculiar à vida em sociedade nos grandes centros urbanos, há certamente medidas que podem e devem ser adotadas para que seja controlado, tanto do ponto de vista dos dados concretos (insegurança objetiva), quanto abstratos (sensação de insegurança).

No final da década de 1980 um político alcançou a vitória no pleito para o governo do RJ com a promessa de que acabaria com a violência em seis meses. Venceu a eleição e, é claro, não cumpriu a promessa; aliás, jamais poderia cumpri-la; ninguém poderia ou pode.

Por outro lado, o delineamento claro de medidas concretas e objetivas tendentes ao menos e em curto prazo a promover o renascimento da esperança do controle do problema da (in)segurança e a redução de danos direta ou indiretamente relacionados ao mesmo, é algo não apenas factível, mas, por incrível que possa parecer, não oneroso.

A principal questão do RJ no que toca à gestão do problema da (in)segurança não é a escassez de recursos, mas sim o não descortino das inúmeras possibilidades de fazer "mais com menos", promovendo segurança com economia e incremento de qualidade, fruto da otimização de recursos e de protocolos já existentes.





14/04/2018

"Lembrança de um amargurado negro policial"

Que coisa! 
Descobri que sou negro 
E nunca falei em versos 
Do ser negro 
Nunca cantei sua dor 
De ser quase gente 
De ser diferente 
E quase sempre Humilhado por sua cor 
Ser negro é ser pobre 
É ser besta 
É ser vilão 
É ser burro 
É estar na servidão 
É não ser gente 
É ser diferente 
Que coisa! Que coisa! Não corri da polícia nem ganhei medalha de ouro como corredor, mas corri para a polícia... Não fui assassinado nem fui criminoso... Que coisa! Não vou interrogar o silêncio.".

Coronel Cerqueira, um homem muito à frente de seu tempo, foi assassinado no Rio de Janeiro em 14 de setembro de 1999.


As circunstâncias do homicídio permanecem nebulosas até hoje.

(*)  Manuscrito da entrevista com Carlos Magno Nazareth Cerqueira de 18 de julho de 1988. In Museu da Imagem e do Som. Projetos Especiais: Cem anos de Abolição, p. 10. In Arquivo pessoal do coronel Nazareth Cerqueira localizado no Instituto Carioca de Criminologia, extraído da tese de doutorado de Bruno Marques Silva intitulada "Uma nova polícia, um novo policial”: uma biografia intelectual do coronel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira e as políticas de policiamento ostensivo naredemocratização fluminense(1983-1995)".