21/04/2010

Antiguidade também é mérito

Conversa fiada!
Por mais torta que possa ser a "meritocracia" vigente, por mais que quesitos conjunturais de ordem evidentemente não profissional, de natureza "política" e/ou sei lá mais o quê (?) possam ter preponderância sobre outros de melhor jaez (probidade, dedicação, competência e constância não são de alguma forma avaliáveis?), antiguidade é antiguidade, "merecimento" é "merecimento" e ponto final; digo, reticências...
Mas nem tudo são espinhos!
Relativizando o relativizável (perdoem meu filosofês barato, mas acredito que há valores sobre os quais é muito complicado atribuir caráter relativo), lembro-me de ensinamento recebido de um camarada de acordo com o qual, dependendo das circunstâncias e práticas vigentes, a manifestação de ausência de mérito profissional - o "não" - pode representar tácita ou até expressamente alguma forma de "coroamento", não do ponto de vista de benfeitorias pessoais - úteis ou voluptuárias -, mas da "mera" afirmação de valores, de convicções e do próprio "eu".
Talvez seja melhor mesmo imaginar que o reconhecimento de demérito é na verdade uma grande e inequívoca manifestação tácita (ou não) de mérito. Quem sabe!
E vale ressaltar que mesmo no campo objetivo do "reconhecimento de mérito", já há quem no passado não o tenha obtido e, mesmo assim, tenha recebido um pouco mais à frente efusiva coroação (?). Sei que jamais terei alguns de seus méritos e tampouco os almejo (acho que muito ao contrário), mas fatos são fatos.
Choro da "derrota"? Não e vale ressaltar que ela poderia ter sido maior (ao menos do ponto de vista das "ameaças" recebidas e dos constrangimentos impostos). Busco apenas elaborar simples e pessoal leitura da realidade na qual estamos imersos até o pescoço (ou mais).
E é de tal elaboração, temperada, é verdade, com um pouco de conflitos, decepções, observações pessoais e também com uma dose daquele incômodo sentimento de injustiça, que emerge a real sensação de que a linha divisória entre vitória e derrota no campo em que labuto não é mais tênue do que contraditória...

10/04/2010

O que são agentes públicos "...ligados a bicheiros"?

(O Globo, primeira página, 10Abr10)

São aqueles (e seus patrões) empregados na segurança dos mesmos?
E o que dizer dos que prestam serviços à Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA)?

E daqueles postados (fardados e não fardados) em frente ao Barra D'OR garantindo a segurança do... contraventor enfermo?
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(Caso de Polícia, Extra, 10Abr10)
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E não nos esqueçamos daqueles que atuam nas ruas do Rio ao lado de pontos de bicho, bem como dos que ocupam prédios públicos em cujas esquinas a contravenção penal é notória e impune.
A propósito, se procurássemos, acharíamos pontos de jogo do bicho nas imediações do Quartel General da PM? Da Chefia da Polícia Civil? Da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar? E nas cercanias da Secretaria de Segurança do RJ? Talvez uma boa olhada na periferia das sedes dos poderes judiciário, legislativo e do Ministério Público fosse também reveladora!
Otimista e legalista que sou, acredito que a resposta à pergunta por mim mesmo formulada deva merecer conotação abrangente, o que levará à deflagração de ações correicionais destinadas inclusive a responsabilizar comandantes, delegados...

e outros agentes públicos (basta nos reportarmos com evidências diretamente ao MP) por eventual comprometimento (por ação ou omissão) com a jogatina que parece dominar o Rio de Janeiro.
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Talvez a Corregedoria realize minudente correlação entre patrimônio de autoridades e manifestações contravencionais em suas áreas de atuação...
Talvez responsabilize agentes públicos empregados pela LIESA...
Talvez até busque os reais motivos para que o problema de "falta de espaço" para apreensão de caça-níqueis não tenha sido ainda resolvido...

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Talvez assistamos à instauração de diversos IPMs, à deflagração de interceptações telefônicas, de quebras de sigilos bancários e a inúmeros indiciamentos de agentes públicos (e não me refiro, é claro, apenas à "raia miúda") "ligados a bicheiro(s)".
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Quem sabe!

02/04/2010

Subdelegados

Eles não existem.
Mas imaginem se existissem... Imaginem se um deles fosse alçado ao comando, digo, à chefia geral da polícia de segunda.
Imaginem o que ocorreria se tivéssemos subdelegados ocupando a direção de unidades operacionais, de grandes comandos, de organizações de ensino, lotados em outros órgãos do governo, no poder judiciário, no ministério público, em casas legislativas, em associações "classistas" e até mesmo na autarquia responsável pela gestão dos dados estatísticos...
Muito provavelmente seriam fiéis aos interesses classistas de seus superiores, por mais controversos e contrários ao interesse público que fossem.
Talvez jamais levassem à frente esforços concretos e sinceros a fim de investir os policiais da ponta da linha de instrumentos que propiciassem torná-los algo diverso de simples espantalhos de criminosos ou taxistas de ocorrências.
Tratamento salarial equânime entre instituições policiais? Jamais!
Lavratura de termo circunstanciado pela "raia miúda" seria manifestar oposição à verdadeiro dogma; algo impensável, um pecado capital (cortem-lhe a cabeça!)...
Incremento de escolaridade para ingresso nos quadros da instituição? De modo algum!
Pensar em qualidade em detrimento de quantidade? Que coisa louca!
Liberdade de expressão? Subversão!
Seria importante levar à frente a qualquer custo a visão de uma polícia de primeira e de outra de segunda (ou terceira); sedimentar no imaginário de comandados/chefiados a existência de uma classe policial com poderes quase divinos, merecedora de regalias, destaque e reverência...
Creio que jamais veria um subdelegado referindo-se a um superior com tratamento diverso de "doutor"...
Seria importante também blindar seus superiores contra críticas, mesmo que fundadas... Divulgação dos resultados de seu trabalho investigativo? Nem pensar!
Imaginem como seria a aferição de produtividade... Certamente seria calcada objetivamente apenas no trabalho da polícia de segunda (ou terceira), cabendo à raia miúda e aos seus chefes o ônus pelos desacertos e a todos, com destaque ao trabalho "integrado" entre subdelegados e seus superiores, o bônus quando da verificação de resultados positivos pela autarquia da estatística (por mais duvidosos que pudessem ser).
É provável que os subdelegados assistissem passivamente à desmobilização de serviços de interesse público prestados por seus chefiados. Os policiais deixariam o trânsito, unidades seriam sumariamente extintas, a correição tenderia a exercer seu caráter judiciário militar sob o jugo de "verdadeiras e únicas autoridades", o termo "delegacia" teria que ser extirpardo do organograma institucional. Delegacias? Subdelegados não podem chefiá-las...
A corrupção? Grassaria; afinal, tal ponto faria parte dos quesitos que deveriam nortear a afirmação da imagem de polícia de terceira (ou quarta)... Imaginem a exposição de supostos criminosos uniformizados (ou não) pelos dirigentes da polícia de primeira... Imaginem as entrevistas... Imaginem o silêncio e a inércia dos subdelegados...
Meritocracia? A subserviência seria critério magno para a ascensão não apenas ao cargo de subdelegado, como também às instâncias outras de "poder" interno (e quem sabe externo). Talvez pudesse até valer algumas entrevistas e gratificações (nunca maiores, é claro, do que as percebidas por seus superiores).
Mas e quanto à população? E quanto às pessoas que ao final estariam arcando com o ônus de tamanhos despropósitos? Não importa! Afinal, elas talvez nem conseguissem perceber os reais intentos que dariam lugar ao sentimento crescente de insegurança experimentado. Aliás, seria necessário muito dinheiro para sustentar posições pretensamente alvissareiras na mídia, por mais artificiais que fossem.
Que quadro caótico, não?
Ainda bem que não temos subdelegados!