Magia
"Uma vida sem dor é uma vida sem amor"
Sentencia o poeta em uma das muitas plaquetas postas nas casinhas
Casinhas de um lugar onde o tempo tem preguiça
Onde o rio é vermelho e inspirava Aninha
Rio com sede... mas a fonte do porão ainda jorra
Porão de Ana... de Maria
Maria de Goiás, de Cora, Maria que virou boneca
De um lugar onde a Lua é mais bonita
Onde o coreto da velha praça vende sorvete
Saboreado por moças pudicas e jovens Senhoras
Todas fiéis ao chamado do sino
Sino que badala de verdade na torre da igreja
Bela, neogótica e desejosa de tocar o céu
Céu do Cerrado, sofrido e resiliente
Céu de um lugar onde o barroco impera
Onde as portas das casinhas ficam abertas
Onde a campainha é um mero "ô de casa" pronunciado já à soleira
Onde a saudação usual é acompanhada de um pronunciado "cumé que cê tá?"
Em um lugar que emana amor, poesia e respeito
Onde de três em três casinhas há uma plaquinha
Se não com poesia, com reverência ao antepassado morador vilaboense
Lugar onde o mero caminhar inspira
Onde a gentil guia clama "me olhe nos olhos, tenho uma história a contar..."
E te pede: "debruce na janela, olhe o rio e sinta a inspiração de Aninha"
Aninha que pedia a benção ao "vô rio"
Aninha cujos doces ainda podem ser provados nas casinhas das tias
Tias de um lugar maravilhoso
Onde nas ruas há geladeiras
A guardar e destinar livros aos seus
Onde o Parque, a fonte e a Rua são cariocas
Lugar onde o cruzeiro no alto do morro brilha tanto quanto a Lua
Morro de trilha difícil sob um Sol de 40 e de cruzes a demarcar etapas com números romanos
No lugar mais lindo e amável já visitado por este contumaz viajante
Morro de Ana, terra de Cora Coralina
E se é verdade que "uma vida sem dor é uma vida sem amor"
Também o é um indagação gravada em outra plaquinha:
"Pode viver satisfeito um coração sem amor ?"