04/10/2025

Magia


"Uma vida sem dor é uma vida sem amor" 

Sentencia o poeta em uma das muitas plaquetas postas nas casinhas 

Casinhas de um lugar onde o tempo tem preguiça 

Onde o rio é vermelho e inspirava Aninha 

Rio com sede... mas a fonte do porão ainda jorra 

Porão de Ana... de Maria 

Maria de Goiás, de Cora, Maria que virou boneca 

De um lugar onde a Lua é mais bonita 

Onde o coreto da velha praça vende sorvete 

Saboreado por moças pudicas e jovens Senhoras 

Todas fiéis ao chamado do sino 

Sino que badala de verdade na torre da igreja  

Bela, neogótica e desejosa de tocar o céu 

Céu do Cerrado, sofrido e resiliente 

Céu de um lugar onde o barroco impera 

Onde as portas das casinhas ficam abertas 

Onde a campainha é um mero "ô de casa" pronunciado já à soleira 

Onde a saudação usual é acompanhada de um pronunciado "cumé que cê tá?" 

Em um lugar que emana amor, poesia e respeito 

Onde de três em três casinhas há uma plaquinha 

Se não com poesia, com reverência ao antepassado morador vilaboense 

Lugar onde o mero caminhar inspira 

Onde a gentil guia clama "me olhe nos olhos, tenho uma história a contar..." 

E te pede: "debruce na janela, olhe o rio e sinta a inspiração de Aninha" 

Aninha que pedia a benção ao "vô rio" 

Aninha cujos doces ainda podem ser provados nas casinhas das tias 

Tias de um lugar maravilhoso 

Onde nas ruas há geladeiras  

A guardar e destinar livros aos seus  

Onde o Parque, a fonte e a Rua são cariocas 

Lugar onde o cruzeiro no alto do morro brilha tanto quanto a Lua  

Morro de trilha difícil sob um Sol de 40 e de cruzes a demarcar etapas com números romanos 

No lugar mais lindo e amável já visitado por este contumaz viajante 

Morro de Ana, terra de Cora Coralina 

E se é verdade que "uma vida sem dor é uma vida sem amor" 

Também o é um indagação gravada em outra plaquinha: 

"Pode viver satisfeito um coração sem amor ?"