20/03/2010

Nunca fumei maconha

E também não contribuo para os ganhos da Souza Cruz, mas tive vontade de expressar o que penso (a "Constituição Cidadã" diz que posso) sobre tão importante questão...
Há quase dez anos, quando chefe da seção de planejamento do Batalhão do Estácio, conversava com uma delegada em minha sala e ao perguntá-la sobre sua posição acerca do enfrentamento da questão das drogas, ouvi - em tom de brincadeira (creio) - que a solução seria explodir os locais dominados por traficantes.
Lembro-me de que ela ficou assustada quando eu, major de polícia, disse ser favorável à liberalização do consumo e à estatização/regulação do fornecimento.
Eu não disse para ela, mas fiquei menos assustado com sua própria posição do que com o alto percentual de despachos "suspenda-se a investigação até o surgimento de fatos novos" verificado nos ROs oriundos da delegacia em que trabalhava e com base nos quais realizávamos, já naquela época e sem oba oba, nosso modesto geoprocessamento e o controle de tempo consumido nos balcões das delegacias para a finalização das ocorrências.
Mas voltando a questão principal, é importante que reconheçamos o fato de que se o modelo de enfrentamento ainda adotado resolvesse alguma coisa, essa coisa já estaria resolvida ou pelo menos sob controle. Não está! Mesmo nos "fenômenos" de marketing representados pelas ocupações policiais sob nova denominação - UPPs - a relação de mercado e o risco de morte parecem presentes (que o digam as vítimas do ônibus incendiado na Cidade de Deus).
Além de a práxis adotada não servir para resolver o problema, ela gera ainda efeitos colaterais perversos. É como se tivéssemos uma fábrica de pensionistas de policiais e de mães chorosas de marginais (ou não) funcionando com proficiência comparável à da... Souza Cruz.
É preciso desatrelar poderio bélico da relação oferta x demanda que envolve a questão das drogas.
Imaginem se houvesse necessidade de estabelecer domínio territorial guarnecido por poderio bélico em pontos de venda de... cerveja. Imaginem mal remunerados, maltratados e descrentes policiais militares atuando em meio às guerras entre o Comando Kaiser e o Comando Brahma (ou Liber 0% - recomendo)...
Lembro-me da pergunta de um Subcomandante a um Aspirante-a-Oficial na mesma época: "E aí? Vamos dar uma porrad(...) no Morro hoje?
E lembro-me do menino Gabriel, morto na mesma época por uma "bala perdida" no Morro do Zinco enquanto brincava com uma bola e cuja autoria do disparo persiste ainda hoje obscura.
E aí? Vamos dar uma porrad(...) no Morro hoje? Pra quê?

8 comentários:

Anônimo disse...

Observo que quem está do outro lado, ou seja, sem poder de mando, faz inúmeras críticas a todos os modelos de combate a criminalidade.
Gostaria que o senhor wanderby mostrasse a mim e a todos qual seria o modelo correto de combater esses marginais armados até os dentes?

Alexandre, The Great disse...

Será que estaremos ombreando amanhã na Marcha pela PEC 300?

Maj Jorge disse...

Wanderby concordo com vc, antes de ser criticado por tal posição a própria ONU chegou a mesma conclusão. Em primeiro lugar quero evidenciar que as drogas são um grande mal para a sociedade, em segundo que trata-se de um comércio. Não compactuo com a idéia de ser o usuário vítima de maléficos traficantes e ter tratamento penal diferenciado, pois o maior clientelismo do consumo de drogas está nas classes alta e média(não me refiro ao consumo de álcool), em fim, sou a favor de utilizarmos nossos recursos para evitarmos outros crimes, mas, nem por isso deixarei de combater o crime de tráfico sob pena de prevaricação ou de julgar desnecessário.
Em tempo: acredito no PROERD como uma excelente atividade de prevenção ao consumo de drogas.

Emir Larangeira disse...

Caro Major Wanderby

Concordo em gênero, número e grau com a sua postura crítica e corajosa em relação às drogas. Já me manifestei da mesma forma muitas vezes. Aproveitando a sua "deixa", ganhei muita "porrada" (Risos). Sobre as UPPs, sugiro a observação do artigo dum professor (sociólogo)cujo primeiro parágrafo sublinhei no meu blog.
Descriminalização do consumo de drogas é um tema que necessita de ser tratado sem preconceitos e discursos babacas de que falar nisso é fazer apologia das drogas. Ora! Como tentar resolver algo sem discutir posições diferentes? Vamos em frente! Parabéns pelo artigo.

Abs.
Emir Larangeira

Paulo Ricardo Paúl disse...

Prezado Wanderby:
Por favor, divulgue os seguintes atos:
- Dia 24 MAR 2010 - 12 às 14 horas - O Excluído Fardado estará próximo ao QG da PMERJ (Rua Evaristo da Veiga com Rua Senador Dantas).
2) Dia 29 MAR 2010 - Caminhada do Largo do machado até o Palácio GB, concentração a partir das 17 horas no Largo do Machado.
Juntos Somos Fortes!
Paulo Ricardo Paúl
Coronel de Polícia
Ex-Corregedor Interno

Anônimo disse...

Caro Major,

Acho que essa questão das drogas, principalmente nos bolsões de pobreza, vai além do tiro, porrada e bomba. Bem muito além de apenas descriminalizar o uso (já discriminado) e a venda.

O problema estaria na concentração de renda desse País que gera as zonas excluídas da atenção da Elite Brasileira.

Sem querer defender políticagem de governo, as UPPs devem ser apenas o início do fim da omissão dos governantes, agora nessas comunidades deve se entrar a educação, saneamento básico, justiça, saúde, etc. E isso deve ser objeto comum em todos os cantos do país!

Mas apenas o governo fazendo sua parte ainda não é o suficiente, e ainda falta muito por fazer, inclusive em relação aos salários de servidores estaduais. O que falta agora é a outra parte da Elite começar a mudar esse quadro, falo agora da Elite Capitalista, que insiste, em nome do lucro, pagar parcos salários aos tarbalhadores (um fator principal da concentração de renda). Pois na visão imediatista dessa Elite, o desemprego em níveis altíssimos é vantajoso, pois abre a possibilidade de achatar os salários em nome da oferta e procura da mão-de-obra.

Porém isso reflete diretamente na violência, que acarreta em almento do custo da produção, isso já é sabido de todos.

As ações do Governo Federal em distribuição de renda e emprego, muito tímidas ainda e na maioria das vezes assistencialistas, já geraram a migração de pessoas para fora das favelas, infelizmente não lembro agora com certeza se foi um artigo da UNESCO que eu li isso. Então, imagine se empregadores de todo país se enganjassem na política de distribuição de renda, contribuindo com salários maiores aos empregados. Teriamos a redução das favelas acentuadas, em consequência a diminuição de números de pobres envolvidos com o tráfico de drogas e outros crimes relacionados a este delito.

Outra coisa, em minha opinião, o Estado deve sim combater não apenas a venda, mas o uso da droga. Pois estes produtos destroem o Espírito Humano, basta ir em locais onde há a concentração de usuários de crack, festas raves, etc. Bem como o Estado deve parar de tartar o usuário como coitado e sim como culpado, pois eles são os grandes responsáveis direto e indiretamenta dos crimes realcionados à droga.

Então, o que fazer? Continuar a entrar apenas com a polícia e matar todo Roupinol que aparecer? Mandar para a cadeia os usuários?

Quem dera se fosse tão simples resolver esse problema. O tráfico ele está entranhado em toda a sociedade, então apenas a polícia não resolverá, os fatos já mostram isso.

Tem de se haver o empenho dos Três Poderes, escolas, hospitais, igrejas, religiões de todo tipo, empresas. Todos empenhados no combate a lavagem de dinheiro, cor
rupção, omissão, na propaganda contra o uso e sua criminalização. Sim, a Ética e a Moral devem ser empenhados no combate ao tráfico de drogas. Ações isoladas de qualquer tipo não resultaram e não resultarão em nada!

Blog da UNR disse...

Caro Vanderby,

é minha primeira visita a teu Blog e no geral gostei; discordo radicalmente da liberalização das drogas - apesar do atual governo ter, na prática, via abrandamento das penas, liberado o consumo... situação que espero seja revista......não vou me estender sobre os aspectos que desaconselham a liberação e recomendam a repressão...vou me ater a outro ponto que me preocupou bastante no que captei do teu artigo: é que você praticamente é contra combater o crime...
subir morro para arrochar traficante, pode causar morte de inocentes (o que é realmente lamentável mas conforme aquele ditado antigo não se faz omelete... e em termos atuais é o 'efeito colateral') então nada de subir morro..........
fazer uma operação para reprimir um outro tipo de crime também pode resultar em mais viúvas de heróis policiais e mães de bandidos chorando....
que fazer?
deixar a criminalidade a solta e recolher as polícias aos quartéis e delegacias?

grato,

Cézar Henriquez

Anônimo disse...

Wanderby

Você está de parábens, precisamos de mais policiais que entendam que a proibição é o que trás o mercado negro e por consequência a violencia envolvida ao trafico!

Meus mais sinceros parabens!

Luis Aguiar