16/12/2006

Nós éramos cem!

É, cem!
Cem tenentes, ávidos por mudanças e dispostos a sacrifícios pessoais para tal.
Lembro de que, em meio à serie de críticas de que fomos alvo por parte das autoridades, uma, de extrema inteligência e visão, disse, como que "pensando alto":

"...amanhã, vocês terão orgulho do que estão fazendo.".

Poucos parecem ter lembrança, mas em meio às muitas mortes de que "estávamos" sendo vítimas, às condições de trabalho desfavoráveis, aos baixos salários e às discussões emanadas das cerimônias fúnebres, tomamos uma decisão:

BASTA!
Temos que fazer alguma coisa.

O que fizemos?
Em determinada noite de 1995, cruzamos a guarda e entramos em forma, disciplinadamente, no pátio do Quartel Central, solicitando que nossos clamores fossem ouvidos.
E foram, a contragosto de nossos interlocutores, mas foram.

Hoje, passados mais de dez anos, aindo tenho clara recordação de muito do que fizemos, da maneira como concebemos e desenvolvemos nossa pequena e ousada jornada.
Lembro de Capitães frustrados com nossa decisão em restringir as ações aos postos subalternos.
Lembro quando a sentinela, ao ver tantos tenentes, FARDADOS, cruzando o portão das armas, exclamou sua crença de que naquele momento, finalmente, as coisas iriam mudar.
Lembro do Comandante de determinada Unidade (o qual, anos após, ascendeu ao cargo máximo da Instituição), de onde uma parte de nós, na qual me incluía, rumou em direção ao objetivo, que, ciente de nossos propósitos, ao invés de adotar, como esperávamos, procedimento diverso, cerceando nossa liberdade, disse, em bom tom:

"parabéns e desculpem a mim e a meus pares, pois não temos a mínima condição de mobilização... sigam em frente" .

Lembro da matéria de capa do jornal O Globo do dia seguinte, que falava na edição de novo movimento tenentista, exibindo fotos de camaradas, de cabeças erguidas, extravasando idealismo e auto-confiança.
Lembro de nossas companheiras, BRAVAS companheiras, juntas, pela manhã, a defender, nos portões de imponente Palácio, nossos ideais.
Lembro de dado momento, já no auditório, quando um tenente foi "ameaçado" e todos, seguidamente, começaram, disciplinadamente, a ficar de pé, declinando suas "culpas" e, solidariamente, rogando a adoção, contra si próprios, de medidas coercitivas.

É, como nos julgávamos fortes!
Como éramos fortes!

Éramos cem e se mais não conseguimos, ao menos evidenciamos a capacidade de mobilização, séria e objetiva, de uma classe.
Da classe de tenentes de meados da década de 1995.
Mas e hoje, onde estão meus camaradas?
O que andam fazendo?
Quantos ainda restam?
Quantos ainda se orgulham?
Quantos ainda se lembram?

Que saudades de quando era Tenente!
Que saudades de meus camaradas!
Que saudades de 1995!

3 comentários:

Anônimo disse...

Sou Praça da PMSC e gostando muito de leitura acompanho seu blog e outros na área Policial. Quero lhe dizer que apesar de não conhecê-lo, o Senhor é um Grande Policial, um Herói, e um grande Homem pelo que tem escrito e assumido publicamente aqui na net, pois com tudo que esta se passando ai no RJ o Senhor esta dando a cara pra bater de peito aberto, integro e sem medo de represálias, exemplo de caráter, honestidade e comprometimento com a instituição. Isso que é hombridade!
Como seria bom se tívessemos muitos e muitos oficiais que nem o Senhor nas Policiais Estaduais do Brasil, lutando por uma melhor Polícia, pelos Policiais Militares em geral e consequentemente uma melhor defesa da população.
Sou seu fã e lhe desejo Boa Sorte e muita força na sua luta que aparentemente pode ser só para sua PMERJ, mas indiretamente é de todos os Policiais do País pois a situação que vocês vivem ai acontece também em outros estados e, se não, mais cedo ou mais tarde acontecerá e o Senhor é um dos que esta lutando pela melhoria de todos.

Parabéns!!

Anônimo disse...

Aonde nós estamos? Precisamos refletir e imediatamente decidir. Dentro de nós deve arder um ideal de mudanças, de inconformismo com o cenário atual. Esconda-se e fugirá para sempre.

Excallibur - Ten PM

Anônimo disse...

Major Wanderby.
Um homem não precisa ser escravo de um personagem para manter seus valores pessoais e históricos.
Seu artigo, embora carregado de emoção, uma emoção vital para a exibição da marca humana da qual não se deve afastar até o mais desprovido de passionalismos, deixa transparecer uma nostalgia acrítica deslocada do tempo presente no qual você precisa viver.
Mais do que ter compromisso com valores este artigo deixa claro que você está escravizado a você mesmo no tempo passado.
Idealismo sim, major, mas amadurecimento também. Do contrário é servilismo de nada. Nem de um ideal nem de um valor pessoal, mas apenas de um personagem que teve seu tempo.
É lógico que um importante personagem, mas temporal, adequado a uma idade cronológica e psíquica.
Sacrifique-se por idéias, por pessoas e por indivíduos, mas com cuidado para não parecer deslocamento da realidade.
Não pare. Continue.
Mas cuidado com atos falhos nostálgicos que mostram deslocamentos, principalmente quando a pretensão é pragmática.