29/06/2010

Gol de placa

Não falo do percentual de reajuste salarial e nem tampouco do prazo em que será concedido a todos os militares (oficiais e praças) da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, bem como aos funcionários públicos da Polícia Civil (exceto delegados) e aos Inspetores de Segurança Penitenciária; em todos os casos, em patamares ainda menos favoráveis do que os que foram "gentil", célere e abruptamente outorgados, sob a trágica chancela de "importância estratégica" (e eu que pensava que a aplicação do conceito de estratégia em matéria de investigação criminal era quase uma sentença de impunidade), aos mais de mil delegados de polícia do RJ.
Não falo da redução de discrepância entre topos e bases das Corporações Policiais Militar e Civil, pois ela continuará a ser elevada, embora em patamares expressivamente menores do que o seriam se persistisse o intento anterior, muito mais discriminatório.
Também não falo dos soldos finalmente alcançados em janeiro de 2015, certamente e em muitos casos, ainda inferiores ao salário mínimo brasileiro.
Destaco o marco simbólico do ato, que, ouso dizer, assume configuração mais importante do que percentual e prazo propriamente ditos.
No momento em que muitos, inclusive aquele que ora escreve, estavam totalmente céticos quanto à possibilidade de reação (a gente se acostuma), ela veio.
Graças à iniciativa de um Coronel da PM do RJ - e falo do Cmt Geral, sem aspas -, interesses de dezenas de milhares de policiais (militares e civis), bombeiros e inspetores do DESIPE foram não apenas observados, mas, de uma forma ou de outra e ainda que em menor grau, contemplados.
No momento em que delegados de polícia deram mais uma demonstração clara e inequívoca de preocupação exclusiva com seus próprios (e, convenhamos, nem tão legítimos assim) interesses, deixando de lado até mesmo as muitas e justas agruras dos demais funcionários públicos de sua própria instituição e provocando (sabe-se lá com que armas) uma das atitudes talvez mais desastradas do atual governo, não faltou dignidade e coragem a um Coronel ocupante do cargo máximo na PM (do RJ) para lutar pela redução de tamanha injustiça...
E ele conseguiu!
Sei que o placar ainda nos é bastante desfavorável, mas o Cmt Geral da PM fez sim um gol de placa. Que não seja o de honra...

25/06/2010

O mais grave não é o reajuste!

Embora saibamos que a disfarçada (ou nem tanto) isonomia salarial entre delegados de polícia e promotores públicos do RJ, materializada através da concessão, às vésperas de eleição, de mais de 87% de reajuste salarial não pode ser justificada como mera recomposição de perdas do período (o “resto” dos integrantes da segurança pública teve apenas 10% de reajuste), estando, portanto, em flagrante oposição à legislação eleitoral vigente no Brasil,

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:
...
VIII - fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perda de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no art. 7º desta Lei e até a posse dos eleitos.” (Lei n.º 9504/97).

há algo ainda pior.

A mensagem implícita na justificativa ofertada pelo governo para o ato administrativo em questão é o que deve merecer nossa maior reflexão,

o aumento é destinado a fortalecer a carreira de delegado, que é considerada pelo governo como estratégica na política de Segurança Pública

pois revela não só estranho apreço por apenas uma categoria profissional (cuja curiosa e paradoxal – o inquérito policial é sigiloso – presença nos veículos de comunicação passou a ser lugar comum), mas, o que é ainda pior, desprezo por todo o “resto” dos operadores da segurança pública, incluindo, é claro, os funcionários públicos da mesma instituição a que pertence a citada categoria (ou não?).
Ainda que o pomposo reajuste tivesse por fundamento taxas de elucidação de delitos de percentual similar ao mesmo (quais são elas?), não haveria justiça na medida isolada adotada.
Quem de fato realiza as investigações nas delegacias de polícia?
Na fase processual, tem valor o depoimento colhido pelo delegado (por ele mesmo?) ou a evidência científica produzida pelo perito?
Claro que a medida suscita mais interrogações...
O que pensam (e farão) a respeito as associações do “resto” das classes?
O que fará o secretário de segurança?
O que disse ou dirá o comando da PM do RJ?
O que levou a ALERJ a referendar a medida?
O que fará o Ministério Público com atribuição eleitoral?
Qual é o sentimento que aflora nas dezenas de milhares de homens e mulheres que arriscam sua integridade física no dia-a-dia da (in)segurança pública do mesmo estado cujas bases hierárquicas das instituições afins recebem, por oposição, os piores salários do Brasil?

17/06/2010

Pátria de chuteiras

Pensei em começar dizendo acreditar que a eventual eliminação do Brasil na copa - estamos em ano eleitoral (coincidência?) - seria menos maléfica do que benéfica à sociedade brasileira, mas cheguei à conclusão de que seria, no mínimo, incompreendido.
Pensei em enaltecer o choro de emoção do atacante nipônico da seleção norte-coreana durante a meia execução do hino do mesmo país, mas talvez fosse tachado de "comuna" ou de admirador de Kim Jong-il, coisas que não sou.
Pensei então em ficar calado, mas...
Em tempos de "Mega Feirão Ricardo Eletro para policiais militares (...) com desconto em folha, sem avalista, sem consulta ao SPC e ao SERASA", emerge no cenário do RJ mais uma grande oportunidade para que torcedores da Corporação comprometam um pouco mais seus sofríveis soldos (não sei se sabem, mas são os mais baixos do Brasil) para, quem sabe, adquirir em "n" prestações aquela TV de LCD e, no intervalo entre uma e outra segurança/serviço, sob os auspícios de algumas itaipavas/cintras e de uma ou mais latas de salsichas, torcer pelo hexa do Brasil.
Em tempos de eleição, incomoda observar declarações de agentes políticos - para falar apenas do "topo" - integrantes de gestões em vias de ser findas, justificando viagens à África do Sul e Inglaterra sob o pretexto de que "temos que aprender" para fazer por cá em 2014 e 2016. Temos? Nós? Nós quem???

Viva o Brasil e as vuvuzelas sul-africanas...

(Fonte da foto: http://oglobo.globo.com/fotos/2010/06/15/15_PHG_drummond.JPG)

E deixemos pra lá a criminalidade e a impunidade que, apesar da fortuna por "nós" investida em marketing para sobrepujá-las, continuam a teimar em produzir reflexos fáticos e regulares em nossa "Cidade Maravilhosa".
Pouco importa se inocentes continuam a morrer e se a não elucidação de crimes persiste como chaga intocada.
Pouco importa se o Instituto de Segurança Pública dá cambalhotas e oculta dados de interesse... público.
Pouco importa a extinção do Batalhão de Trânsito da PM e o emprego de "investigadores" em... operações de trânsito.
Pouco importa se agouros oriundos da Procuradoria Geral do Estado (e não só dela) revelam funestos, desproporcionais e ilegítimos reflexos sobre os já combalidos servidores da segurança pública.
Pouco importa se funcionários públicos denunciados por improbidade administrativa permanecem no exercício de funções de destaque no âmbito da gestão da segurança pública do RJ.
Pouco importa o descarado uso da máquina pública para a obtenção de fins particulares.
Pouco importa a óbvia conivência de autoridades com o jogo do bicho, com as máquinas caça-níqueis e com outras representações de práticas delituosas "menores".
Pouco importa o trapo que é o serviço do "novo 190" e menos ainda o fato de que, por incrível que possa parecer, tal "serviço" funciona fora da Corporação responsável por sua oferta.
Pouco importa se mais uma vítima, agora, fotógrafo da Reuters, passou pelo infortúnio de ser assaltada e, em seguida, submetida à burocracia cartorária patrocinada pela Secretaria de Segurança para fazer o simples registro do delito que, ao final, servirá muito mais para eventualmente reorientar a presença policial ostensiva e, quando muito, apenas deslocar o intento criminoso, do que para gerar a elucidação do delito e a prisão de seu autor antes que faça outras vítimas.

"O pior de tudo não foi ser roubado, mas a demora no atendimento para fazer o registro..." (Bruno Domingos, cuja máquina fotográfica foi subtraída quando da obtenção de imagens da estátua do poeta Carlos Drumonnd de Andrade com a camisa da seleção do Brasil - Jornal O Globo, 16/06/2010).

Pouco importa que a "pátria de chuteiras" (nike, adidas ou puma?) seja talvez nosso mais visível, frenético, marcante e alienador momento de mobilização "ufanista".

Vamos torcer pelo Brasil na copa... E não nos esqueçamos da PEC300...

25/05/2010

Som alto é questão de polícia!

Sei que no RJ, onde as noções de certo e errado se afiguram cada vez mais nebulosas, isso pode parecer um absurdo, mas à luz da legislação vigente no Brasil, quem utiliza equipamento sonoro acarretando prejuízo ao sossego de outros comete contravenção penal, que deve ser apreciada em sede de Juizado Especial Criminal.
Mas e quanto às causas? Seriam culturais?
Duvido de tal simplória explicação!
Que tal mergulharmos um pouco na realidade?
Em uma abordagem muito otimista (reconheço), o que acontece quando o problema existe?
Ligação para 190 - espera - chegada da viatura da PM - espera - redução do volume - ausência da viatura da PM - espera - elevação do volume - ligação para 190...
Claro que há outra alternativa, talvez ainda mais otimista:
Ligação para 190 - espera - chegada da viatura da PM - espera - redução do volume - ausência da viatura da PM - espera - elevação do volume - ligação para 190 - espera - chegada da viatura da PM - espera - condução de autor e vítimas para uma Delegacia de Polícia - espera - tomada de depoimentos - espera - lavratura de termo circunstanciado - espera - aposição de alguns despachos - espera - encaminhamento ao poder judiciário...
Acredito que a realidade da práxis apregoada pelos gestores da segurança pública no RJ ofereça a melhor justificação para a realidade vivenciada por autores e vítimas da prática desrespeitosa (poderíamos falar de muitas outras) em questão.
Mas qual seria a explicação para que, apesar de tudo, nada tenha ainda mudado?
Qual seria a justificativa para que as autoridades da SESEG/RJ façam questão de empregar delegados de polícia (nem sempre presentes ao ato) para a lavratura de meros termos circunstanciados, contribuindo para que tenham potenciais argumentos para a não realização a contento do importante trabalho de elucidação de delitos gravosos (homicídios dolosos, estupros, latrocínios, roubos, furtos, etc.) que lhes cabe e que tanto medo e desespero acarretam à população fluminense?
O que levaria o Instituto de Segurança Pública a ocultar as taxas de elucidação de delitos gravosos e a sequer monitorar as infrações penais de menor potencial?
E qual seria também a justificativa para que policiais militares permaneçam atuando como meros taxistas de ocorrências às já abarrotadas Delegacias de Polícia, impondo à população serviço oneroso e de péssima qualidade, quando as alternativas para sua otimização são notórias, econômicas e relativamente simples?
Por que tamanha vontade de manter Delegacias de Polícia como cartórios e Policiais Militares como seus "garçons"?
Por que tamanho desprezo para com a população?
Cenário vigente no RS, terra natal do secretário de segurança do RJ:
Ligação para 190 - espera - chegada da viatura da PM - redução do volume - lavratura de termo circunstanciado e marcação de audiência preliminar (em juízo), não sendo descartada a possibilidade de apreensão do material fonte da perturbação...
Simples assim!
A sensação de impunidade é combustível da prática reiterada do desreipeito à legislação e não dá para acreditar em "política de segurança pública" que não adote medidas concretas (e não falo, é claro, de marketing) para reduzi-la.
Não pode? É... inconstitucional?
Não me parece ser a posição do atual Presidente do Supremo Tribunal Federal:

20/05/2010

Homicídio doloso?

Imprecisão talvez não tão grande quanto a afirmação de que a liberação do policial militar decorreu de "apresentação espontânea".
Sim, estou escrevendo sobre o homicídio do cidadão que portava uma furadeira pelo militar do BOPE.
Qual é o motivo de que deriva a aparente preocupação de dirigentes da Polícia Civil do RJ em investigar fatos sem competência legal para tal, ofertando declarações à imprensa, que, por vezes, parece menos ávida por respostas do que apta a formular questões?
Vale destacar que mesmo em se tratando de homicídio doloso, no caso, os autos do inquérito policial (militar) é que devem ser alvo de remessa à Justiça Comum (Lei n.º 9299/96).
Não se trata aqui de defender uma ou outra instituição, mas sim e inicialmente de defender que ações e competências sejam exercidas sob o império dos referenciais legais vigentes no Brasil. Afinal, a quem e/ou a que propósitos interessa não fazê-lo?
O militar do BOPE pode ser responsabilizado? É claro! A previsão de legítima defesa putativa é expressa no Código Penal (art. 20, § 1º) e não afasta a possibilidade de aplicação de pena, todavia, por homicídio culposo (resultando verídicas as alegações iniciais).
"Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.".
Por outro lado, haveria maior imperícia nos militares que apertam os gatilhos ou nos gestores que manejam os cordames que produzem regularmente novas vítimas inocentes?
Será que os legisladores tinham em mente a noção de accountability quando do advento do § 2º do dispositivo supra:
"§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.".
Acho que não! Ou não?

Não importa... No RJ não importa!
Um soldado e também vítima da "guerra contra as drogas" matou mais um inocente.
Um delegado, mesmo sem competência legal, já investigou e apurou o caso, rotulando-o como homicídio doloso (quem "apresentou a ocorrência na DP" mesmo?).
Duas famílias estão certamente sofrendo.
A Secretaria de Segurança já prometeu "apoio" à família do trabalhador morto.
Já temos o fato, o autor, a vítima e algumas promessas de alento...
Os que manejam os cordames continuam incólumes e até festejados por alguns...
Vamos em frente! O importante é manter a "guerra contra as drogas"... Às favas com todo o resto...

21/04/2010

Antiguidade também é mérito

Conversa fiada!
Por mais torta que possa ser a "meritocracia" vigente, por mais que quesitos conjunturais de ordem evidentemente não profissional, de natureza "política" e/ou sei lá mais o quê (?) possam ter preponderância sobre outros de melhor jaez (probidade, dedicação, competência e constância não são de alguma forma avaliáveis?), antiguidade é antiguidade, "merecimento" é "merecimento" e ponto final; digo, reticências...
Mas nem tudo são espinhos!
Relativizando o relativizável (perdoem meu filosofês barato, mas acredito que há valores sobre os quais é muito complicado atribuir caráter relativo), lembro-me de ensinamento recebido de um camarada de acordo com o qual, dependendo das circunstâncias e práticas vigentes, a manifestação de ausência de mérito profissional - o "não" - pode representar tácita ou até expressamente alguma forma de "coroamento", não do ponto de vista de benfeitorias pessoais - úteis ou voluptuárias -, mas da "mera" afirmação de valores, de convicções e do próprio "eu".
Talvez seja melhor mesmo imaginar que o reconhecimento de demérito é na verdade uma grande e inequívoca manifestação tácita (ou não) de mérito. Quem sabe!
E vale ressaltar que mesmo no campo objetivo do "reconhecimento de mérito", já há quem no passado não o tenha obtido e, mesmo assim, tenha recebido um pouco mais à frente efusiva coroação (?). Sei que jamais terei alguns de seus méritos e tampouco os almejo (acho que muito ao contrário), mas fatos são fatos.
Choro da "derrota"? Não e vale ressaltar que ela poderia ter sido maior (ao menos do ponto de vista das "ameaças" recebidas e dos constrangimentos impostos). Busco apenas elaborar simples e pessoal leitura da realidade na qual estamos imersos até o pescoço (ou mais).
E é de tal elaboração, temperada, é verdade, com um pouco de conflitos, decepções, observações pessoais e também com uma dose daquele incômodo sentimento de injustiça, que emerge a real sensação de que a linha divisória entre vitória e derrota no campo em que labuto não é mais tênue do que contraditória...

10/04/2010

O que são agentes públicos "...ligados a bicheiros"?

(O Globo, primeira página, 10Abr10)

São aqueles (e seus patrões) empregados na segurança dos mesmos?
E o que dizer dos que prestam serviços à Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA)?

E daqueles postados (fardados e não fardados) em frente ao Barra D'OR garantindo a segurança do... contraventor enfermo?
.
(Caso de Polícia, Extra, 10Abr10)
.
E não nos esqueçamos daqueles que atuam nas ruas do Rio ao lado de pontos de bicho, bem como dos que ocupam prédios públicos em cujas esquinas a contravenção penal é notória e impune.
A propósito, se procurássemos, acharíamos pontos de jogo do bicho nas imediações do Quartel General da PM? Da Chefia da Polícia Civil? Da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar? E nas cercanias da Secretaria de Segurança do RJ? Talvez uma boa olhada na periferia das sedes dos poderes judiciário, legislativo e do Ministério Público fosse também reveladora!
Otimista e legalista que sou, acredito que a resposta à pergunta por mim mesmo formulada deva merecer conotação abrangente, o que levará à deflagração de ações correicionais destinadas inclusive a responsabilizar comandantes, delegados...

e outros agentes públicos (basta nos reportarmos com evidências diretamente ao MP) por eventual comprometimento (por ação ou omissão) com a jogatina que parece dominar o Rio de Janeiro.
.
Talvez a Corregedoria realize minudente correlação entre patrimônio de autoridades e manifestações contravencionais em suas áreas de atuação...
Talvez responsabilize agentes públicos empregados pela LIESA...
Talvez até busque os reais motivos para que o problema de "falta de espaço" para apreensão de caça-níqueis não tenha sido ainda resolvido...

.
Talvez assistamos à instauração de diversos IPMs, à deflagração de interceptações telefônicas, de quebras de sigilos bancários e a inúmeros indiciamentos de agentes públicos (e não me refiro, é claro, apenas à "raia miúda") "ligados a bicheiro(s)".
.
Quem sabe!

02/04/2010

Subdelegados

Eles não existem.
Mas imaginem se existissem... Imaginem se um deles fosse alçado ao comando, digo, à chefia geral da polícia de segunda.
Imaginem o que ocorreria se tivéssemos subdelegados ocupando a direção de unidades operacionais, de grandes comandos, de organizações de ensino, lotados em outros órgãos do governo, no poder judiciário, no ministério público, em casas legislativas, em associações "classistas" e até mesmo na autarquia responsável pela gestão dos dados estatísticos...
Muito provavelmente seriam fiéis aos interesses classistas de seus superiores, por mais controversos e contrários ao interesse público que fossem.
Talvez jamais levassem à frente esforços concretos e sinceros a fim de investir os policiais da ponta da linha de instrumentos que propiciassem torná-los algo diverso de simples espantalhos de criminosos ou taxistas de ocorrências.
Tratamento salarial equânime entre instituições policiais? Jamais!
Lavratura de termo circunstanciado pela "raia miúda" seria manifestar oposição à verdadeiro dogma; algo impensável, um pecado capital (cortem-lhe a cabeça!)...
Incremento de escolaridade para ingresso nos quadros da instituição? De modo algum!
Pensar em qualidade em detrimento de quantidade? Que coisa louca!
Liberdade de expressão? Subversão!
Seria importante levar à frente a qualquer custo a visão de uma polícia de primeira e de outra de segunda (ou terceira); sedimentar no imaginário de comandados/chefiados a existência de uma classe policial com poderes quase divinos, merecedora de regalias, destaque e reverência...
Creio que jamais veria um subdelegado referindo-se a um superior com tratamento diverso de "doutor"...
Seria importante também blindar seus superiores contra críticas, mesmo que fundadas... Divulgação dos resultados de seu trabalho investigativo? Nem pensar!
Imaginem como seria a aferição de produtividade... Certamente seria calcada objetivamente apenas no trabalho da polícia de segunda (ou terceira), cabendo à raia miúda e aos seus chefes o ônus pelos desacertos e a todos, com destaque ao trabalho "integrado" entre subdelegados e seus superiores, o bônus quando da verificação de resultados positivos pela autarquia da estatística (por mais duvidosos que pudessem ser).
É provável que os subdelegados assistissem passivamente à desmobilização de serviços de interesse público prestados por seus chefiados. Os policiais deixariam o trânsito, unidades seriam sumariamente extintas, a correição tenderia a exercer seu caráter judiciário militar sob o jugo de "verdadeiras e únicas autoridades", o termo "delegacia" teria que ser extirpardo do organograma institucional. Delegacias? Subdelegados não podem chefiá-las...
A corrupção? Grassaria; afinal, tal ponto faria parte dos quesitos que deveriam nortear a afirmação da imagem de polícia de terceira (ou quarta)... Imaginem a exposição de supostos criminosos uniformizados (ou não) pelos dirigentes da polícia de primeira... Imaginem as entrevistas... Imaginem o silêncio e a inércia dos subdelegados...
Meritocracia? A subserviência seria critério magno para a ascensão não apenas ao cargo de subdelegado, como também às instâncias outras de "poder" interno (e quem sabe externo). Talvez pudesse até valer algumas entrevistas e gratificações (nunca maiores, é claro, do que as percebidas por seus superiores).
Mas e quanto à população? E quanto às pessoas que ao final estariam arcando com o ônus de tamanhos despropósitos? Não importa! Afinal, elas talvez nem conseguissem perceber os reais intentos que dariam lugar ao sentimento crescente de insegurança experimentado. Aliás, seria necessário muito dinheiro para sustentar posições pretensamente alvissareiras na mídia, por mais artificiais que fossem.
Que quadro caótico, não?
Ainda bem que não temos subdelegados!

20/03/2010

Nunca fumei maconha

E também não contribuo para os ganhos da Souza Cruz, mas tive vontade de expressar o que penso (a "Constituição Cidadã" diz que posso) sobre tão importante questão...
Há quase dez anos, quando chefe da seção de planejamento do Batalhão do Estácio, conversava com uma delegada em minha sala e ao perguntá-la sobre sua posição acerca do enfrentamento da questão das drogas, ouvi - em tom de brincadeira (creio) - que a solução seria explodir os locais dominados por traficantes.
Lembro-me de que ela ficou assustada quando eu, major de polícia, disse ser favorável à liberalização do consumo e à estatização/regulação do fornecimento.
Eu não disse para ela, mas fiquei menos assustado com sua própria posição do que com o alto percentual de despachos "suspenda-se a investigação até o surgimento de fatos novos" verificado nos ROs oriundos da delegacia em que trabalhava e com base nos quais realizávamos, já naquela época e sem oba oba, nosso modesto geoprocessamento e o controle de tempo consumido nos balcões das delegacias para a finalização das ocorrências.
Mas voltando a questão principal, é importante que reconheçamos o fato de que se o modelo de enfrentamento ainda adotado resolvesse alguma coisa, essa coisa já estaria resolvida ou pelo menos sob controle. Não está! Mesmo nos "fenômenos" de marketing representados pelas ocupações policiais sob nova denominação - UPPs - a relação de mercado e o risco de morte parecem presentes (que o digam as vítimas do ônibus incendiado na Cidade de Deus).
Além de a práxis adotada não servir para resolver o problema, ela gera ainda efeitos colaterais perversos. É como se tivéssemos uma fábrica de pensionistas de policiais e de mães chorosas de marginais (ou não) funcionando com proficiência comparável à da... Souza Cruz.
É preciso desatrelar poderio bélico da relação oferta x demanda que envolve a questão das drogas.
Imaginem se houvesse necessidade de estabelecer domínio territorial guarnecido por poderio bélico em pontos de venda de... cerveja. Imaginem mal remunerados, maltratados e descrentes policiais militares atuando em meio às guerras entre o Comando Kaiser e o Comando Brahma (ou Liber 0% - recomendo)...
Lembro-me da pergunta de um Subcomandante a um Aspirante-a-Oficial na mesma época: "E aí? Vamos dar uma porrad(...) no Morro hoje?
E lembro-me do menino Gabriel, morto na mesma época por uma "bala perdida" no Morro do Zinco enquanto brincava com uma bola e cuja autoria do disparo persiste ainda hoje obscura.
E aí? Vamos dar uma porrad(...) no Morro hoje? Pra quê?

13/03/2010

Justiça

O que é?

Qual é o seu sabor? Qual é o seu cheiro? Qual é a sua aparência?

Por que o rumo das coisas parece tardar tanto a mudar? E por que a impunidade dos grandes e dos pequenos grandes parece sempre grassar?

Sei que ela é lenta, mesmo ao dar lume ao seu oposto; mas não sei se é realmente cega...

Qual é o seu preço?

O tempo se esvai em meio a fanfarrices, idas e vindas. As coisas continuam mal, muito mal....

Nomes novos para práticas velhas e outros nomes nem tão novos assim vem e vão.

Dinheiro novo e dinheiro velho!

Será sua falta a responsável por fazer aflorar vígaros em pretensos homens de bem?

Eu não a vejo, mas sei que Ela existe.